2024 no mercado financeiro: o ano em que o Brasil se descolou do mundo

Se tivéssemos que resumir em uma única frase, poderíamos dizer que o ano de 2024 foi marcado por um descolamento entre Brasil e o mundo

Enquanto globalmente vimos o início de um ciclo de afrouxamento monetário – redução de taxa de juros – fomos na contramão do mundo por fatores internos, reiniciando um ciclo de aperto monetário – alta de taxa de juros. 

Um leitor experienciado nas ciências econômicas poderia interpretar que o aumento do diferencial de taxa de juros entre Brasil e Estados Unidos faria com que investidores estrangeiros aumentassem a demanda por títulos brasileiros, fazendo com que o real se valorizasse frente ao dólar.

Certo? Errado. 

Ao contrário do que se poderia esperar, o real foi uma das moedas com a maior desvalorização no ano – mais de 20% até o fim de novembro. 

Colocando 2024 em perspectiva no mercado financeiro

O ano começou com o mercado de trabalho americano bastante robusto, fazendo com que o FOMC (comitê de política monetária dos Estados Unidos, equivalente ao Copom no Brasil) adiasse gradualmente o início do corte nas taxas de juros. 

No início do ano, havia uma probabilidade de 60% de que os Fed Funds fossem reduzidos já em março, mas, na prática, o ciclo de queda das taxas só começou em setembro à medida que novos dados de atividade econômica foram divulgados.

Essa dependência excessiva de dados econômicos de curto prazo aumentou a correlação entre ativos, dificultando a tomada de posições em juros, câmbio e commodities, especialmente para fundos multimercados macro. 

Como resultado, os anos de 2023 e 2024 configuraram a pior janela de performance para o IHFA (Índice de Hedge Funds Anbima) desde 2010, superando os períodos de retornos negativos durante a pandemia de COVID-19. 

retorno do ihfa, gráfico

No Brasil, o panorama inicial também apontava para um viés de redução nos juros. 

A expectativa do mercado era de que a Taxa Selic caísse para 9% ao longo deste ano e para 8,50% em 2025. De fato, o Copom havia iniciado um ciclo de cortes em agosto de 2023, mas esse movimento foi interrompido em maio de 2024. 

O fator determinante para essa mudança foi a crescente desconfiança quanto à capacidade do governo de cumprir a meta de déficit zero, gerando incertezas que pressionaram as expectativas de inflação e os juros futuros. 

A diferença no cenário pode ser claramente observada ao comparar os dados do boletim Focus de 12 de janeiro de 2024 com os de 29 de novembro de 2024.

No início do ano, o Relatório expressava a previsão de mercado para inflação de 3,87% e Selic de 9,00% para 2024. 

Já no relatório de final de novembro, a previsão para inflação subiu para 4,71% e Selic a 11,75%.

boletim focus,

Boletim Focus, 12/01/2024. Fonte: Banco Central

boletim focus

Boletim Focus, 29/11/2024. Fonte: Banco Central

Uma mudança de cenário no meio do ano

As contas públicas brasileiras se deterioraram de forma significativa ao longo de 2024

O resultado primário acumulado dos 12 meses até setembro (último dado disponível) registrou um déficit de R$ 245,8 bilhões, equivalente a cerca de 2,5% do PIB. 

Esse resultado reflete uma expansão expressiva nos gastos públicos. 

As despesas obrigatórias subiram de 18% para 20% do PIB, impulsionadas por fatores como o aumento real do salário-mínimo, a expansão das concessões de auxílio-doença (40% superiores ao pico da COVID-19) e o aumento no número de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família, cujo custo mais que dobrou em dois anos. 

Para mitigar o impacto do aumento nos gastos, o governo apostou em ajustes na arrecadação, que cresceu 10% acima da inflação em comparação com 2023. Ainda assim, as medidas foram insuficientes para equilibrar as contas públicas. 

Como consequência, o Copom reiniciou o ciclo de alta da Taxa Selic, encerramos o ano com taxa de 12,25% com mais dois aumentos já contratados de 100 pontos nas reuniões de janeiro e março, devendo chegar em 14,25%, e ainda com viés de alta.

Perspectivas para o mercado financeiro em 2025 

Para o próximo ano, prevemos um cenário de dominância fiscal, no qual as decisões de política fiscal sobrepõem-se às de política monetária. 

Isso significa que, mesmo com elevação da taxa Selic para conter a inflação, os impactos serão limitados, pois o aumento nos gastos públicos não responde significativamente ao aumento dos juros. 

Nesse contexto, podemos esperar: 

  • Um real ainda mais desvalorizado;
  • Inflação acima de 5%; 
  • Persistência das pressões fiscais sobre a economia.  

Apesar do tom cauteloso, não queremos adotar uma visão excessivamente pessimista. 

A economia brasileira continua apresentando crescimento, o desemprego está em níveis historicamente baixos, e muitas empresas vêm reportando resultados sólidos, com múltiplos atrativos.

O maior desafio está na política fiscal. 

Caso haja um ajuste real nas contas públicas, o potencial de destravar valor no mercado será significativo, beneficiando tanto as ações brasileiras quanto os juros futuros.

Recomendamos uma abordagem estratégica:

  • Investimentos táticos em ativos selecionados;
  • Exposição moderada a ativos de risco, mantendo posições pequenas e bem calibradas, visando aproveitar oportunidades futuras sem comprometer a segurança do portfólio.

Com disciplina e planejamento, será possível atravessar os desafios e capturar oportunidades de valorização à medida que o cenário evoluir.

Tags

Você também pode se interessar

Seu patrimônio em seguraça com os melhores especialistas do Brasil

Abrir bate-papo
Converse com um assessor.