DeepSeek ameaça a hegemonia dos Estados Unidos na corrida das IAs? O que ninguém está falando

Nos últimos dias, o mercado financeiro americano foi fortemente impactado pelo lançamento de uma nova plataforma de Inteligência Artificial pela empresa chinesa DeepSeek

Esse lançamento desencadeou uma correção significativa nas ações do setor de tecnologia, com uma queda de mais de 3% na Nasdaq e uma perda de aproximadamente US$ 1 trilhão no valor dessas empresas, como a Nvidia, que tem sido uma das empresas protagonistas nessa revolução da IA, já que fabrica os chips responsáveis pelo processamento dessas tecnologias. 

A OpenAI, por exemplo, lançou o ChatGPT e rapidamente atingiu 1 milhão de usuários, um marco nunca visto. E como a Nvidia fornece os chips usados em plataformas de IA, sua valorização foi explosiva. 

Para se ter uma ideia: no início de 2023, suas ações eram cotadas a cerca de US$ 16, e a empresa tinha um valor de mercado de US$ 200 bilhões. 

Com a ascensão da IA, sua capitalização subiu para US$ 3 trilhões, tornando-se a empresa mais valiosa do mundo. 

Porém, a recente correção do mercado reduziu esse valor em cerca de US$ 500 bilhões.

desempenho da nvidia, gráfico

Mas o que causou essa queda, afinal?

Ao lançar sua própria plataforma de IA, a chinesa DeepSeek alegou que utiliza um número menor de chips do que suas concorrentes americanas, em uma tecnologia open source

Essa inovação chamou a atenção de especialistas e investidores, gerando preocupações sobre o impacto no mercado de chips. 

O raciocínio por trás é simples: se a nova IA chinesa precisa de menos chips, a Nvidia e outras fabricantes tendem a faturar menos do que se imaginava, o que afetaria seu fluxo de caixa futuro e seu valor de mercado.

No entanto, muitos analistas já apontam para um possível exagero nessa interpretação

Mesmo que a nova tecnologia seja mais eficiente, isso não significa necessariamente que a demanda por chips será reduzida. 

Pelo contrário. 

Mais eficiência pode levar a um aumento ainda maior no uso da IA e da necessidade de processamento, o que beneficiaria a Nvidia no longo prazo. 

Tanto que, após a forte queda inicial, as ações da Nvidia já se recuperaram mais de 5%.

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Os desafios – e as trapaças – na guerra tecnológica

Vale lembrar que a administração Biden impôs restrições à exportação dos chips mais avançados da Nvidia para a China. 

O objetivo era garantir que as empresas americanas mantivessem sua vantagem competitiva, inclusive no setor militar. 

Entretanto, a China tem maneiras de contornar essas limitações. Segundo o Wall Street Journal, o governo chinês consegue adquirir esses chips ou acessar poder computacional via cloud computing. 

A própria Nvidia já desenvolveu no passado chips que tecnicamente cumpriam as exigências legais, mas ainda ofereciam alto desempenho, e a DeepSeek teria comprado vários desses chips.

Estamos diante de uma nova bolha com a inteligência artificial?

Alguns especialistas mais céticos apontam que a atual euforia com a IA pode estar inflacionada, comparando o momento com a bolha da internet nos anos 1990. 

Na época, houve um frenesi em torno das novas tecnologias, o que levou a uma bolha especulativa. 

No entanto, com o tempo, as tecnologias realmente transformaram o mundo, consolidando o setor digital.

Situações semelhantes ocorreram no passado, como a bolha do Japão na década de 1980, quando se acreditava que o país dominaria o mundo economicamente, ou a ascensão das ferrovias na Inglaterra. 

Esses exemplos específicos mostram que, embora o mercado possa exagerar no curto prazo, a tecnologia subjacente tende a se consolidar a longo prazo.

O fator político que separa China e EUA

Outro ponto importante – talvez o mais importante deles – é que a China opera sob um regime ditatorial, o que obrigatoriamente limita sua capacidade de inovação. 

O Partido Comunista Chinês mantém rígido controle sobre as empresas e impede que temas sensíveis sejam abordados livremente. 

Testes já demonstraram, por exemplo, que a IA chinesa censura informações sobre eventos históricos como o massacre da Praça da Paz Celestial em 1989.

ia chiensa não gosta de algumas perguntas, print

Dessa forma, embora a China tenha um enorme potencial humano e tecnológico, seu modelo de governo restringe a liberdade de inovação e criação de riqueza, enquanto o Ocidente adota um modelo mais aberto e competitivo. 

E isso continua sendo uma vantagem dos Estados Unidos na corrida da IA, considerada hoje a “nova corrida à Lua”: ambos os países se enfrentam em uma nova espécie de Guerra Fria, na busca por domínio tecnológico.

Para finalizar, eu diria que a nova plataforma chinesa é um sinal de que a corrida tecnológica está se intensificando, mas ainda não significa que a China superou os Estados Unidos nesse setor. 

A hegemonia americana no fornecimento de chips e a liberdade para inovação continuam sendo fatores determinantes, que não podem ser menosprezados.

Por isso, entendo que a reação do mercado pode ter sido exagerada no curto prazo, e a Nvidia já mostra sinais de recuperação. 

Resta acompanhar os próximos capítulos dessa disputa tecnológica, que promete continuar evoluindo rapidamente nos próximos anos.

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