Afinal, quanto tempo é, de fato, longo prazo nos investimentos?
É muito comum olharmos o gráfico de retorno histórico dos investimentos e refletirmos sobre nossa alocação.
Em grande parte das vezes, o sentimento mais comum despertado em quem reflete em cima desse tipo de informação é se perguntar o porquê de não ter alocado um volume maior.
Ou então o contrário: vem aquela vontade de ter deixado o dinheiro parado em um único ativo.
É sobre isso que vamos refletir um pouco neste artigo.
Um gráfico, quatro índices e a pergunta que não quer calar
Tomemos a imagem abaixo como exemplo:
Fonte: Quantumaxis
Podemos notar que os Estados Unidos, no momento do gráfico acima, estavam recém saindo de sua crise de 2008 e desde então mantiveram o seu crescimento, que perdura como uma das melhores bolsas (S&P 500).
Daí, criou-se o termo “excepcionalismo americano”, uma expressão que simboliza a falta de perspectiva de outro país ultrapassar o nível de produtividade dos norte-americanos.
Nos outros índices, vemos a bolsa brasileira (Ibovespa), o CDI e o IMA-B5, que resume a performance dos títulos públicos federais indexados à inflação (IPCA) com vencimentos de até 5 anos.
A conclusão óbvia
A pergunta natural do investidor poderia ser: por que não alocar uma parte majoritária em S&P 500?
Nesse momento vale lembrar que o mercado não é exatamente a melhor ferramenta de previsão de resultados – muito menos para pontos de inflexão.
É muito comum projetar apenas continuidade de tendências.
Há poucas semanas, ninguém imaginava que a Nvidia poderia ter um competidor de mesmo nível, até que surge a IA chinesa Deepseek e o mercado reage com uma queda expressiva das ações da Nvidia.
Antes dessa inovação chinesa, o mercado estava precificando nas ações da empresa americana um domínio longínquo.
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O pulo do gato
O que muitas vezes não nos damos conta é que nem sempre o cenário das imagens acima foi assim.
É importante observar dois períodos longos que apresentam resultados muito distintos:
Fonte: Quantumaxis
O primeiro período vai de 2003 a 2011, 8 anos de investimento: vemos um momento em que o Ibovespa supera o S&P 500 e, sob a ótica de risco, o retorno compensou.
Vale salientar que nesse período tivemos Selic a impressionantes 20%, aproximadamente.
Já no segundo período (imagem abaixo), de 2011 em diante, vemos um cenário muito mais próximo do que enxergamos hoje, com uma liderança expressiva do S&P 500:
Fonte: Quantumaxis
Como o mundo dos investimentos mostra, nada é óbvio, muito menos perpétuo e fácil de predizer.
A dica de Warren Buffett
Considerado um dos maiores investidores da história, Warren Buffet tem citações muito famosas:
- “Our favorite holding period is forever” – “Nosso período de investimento favorito é para sempre”
- “Over the long term, the stock market news will be good” – “No longo prazo as notícias do mercado acionário serão boas”.
Muitas das figuras de referência do mercado financeiro falam para investirmos a longo prazo.
Os dois períodos distintos que utilizamos acima, 2003 a 2011 e 2011 a 2025, podem ser considerados expressivos.
Um investidor que tivesse posição relevante no primeiro período em S&P 500 teria ficado insatisfeito e provavelmente abandonado a posição, bem como investidor do Ibovespa no segundo período passaria a dar um destaque muito menor a ações brasileiras no portfólio.
A pergunta fundamental
Por isso, a principal questão que buscamos responder é: dada a alta imprevisibilidade do mercado e o mantra de investir a longo prazo, quanto tempo pode ser considerado longo prazo para que meus investimentos tenham uma boa previsibilidade e uma certa taxa de sucesso?
Nenhuma das respostas a seguir deve ser tomada como absoluta, o objetivo não é a precisão do número de anos, mas sim dar uma ideia de sensibilidade do que esperar.
É claro que é possível escolher ativos melhores que meramente os índices, bem como é possível obter ganhos expressivos em tempos muito menores do que vamos discorrer a seguir.
O objetivo é ressaltar que, para quem não busca a especulação e sim um portfólio longevo, de longo prazo, com o foco em preparar uma aposentadoria ou transmitir um capital para a próxima geração, a reflexão é simples: se o seu horizonte de investimento estiver muito abaixo do longo prazo, talvez você não deva considerar o investimento em um determinado ativo.
Mais exemplos para descobrir o que é longo prazo nos investimentos
Vamos utilizar dois ativos como exemplo para discorrer nossa pergunta central: S&P 500 e o IMA-B5.
Vamos analisar as informações de retornos em janelas móveis nos proporcionam:
A diferença entre os 2 gráficos de janelas móveis é o tamanho entre elas, ou seja: o seu período de avaliação.
No primeiro gráfico, o período é de um ano, 252 dias úteis. No segundo gráfico, são 10 anos, 2520 dias úteis.
Podemos notar que, ao tomar como exemplo janelas de um ano, 30% delas apresentaram retorno negativo, isso sem contar o custo de oportunidade do CDI, enquanto nas janelas móveis de 10 anos tivemos uma redução para 20% dos períodos com janelas negativas.
Ou seja, se você fosse investir no S&P 500 pelo prazo de um ano, o histórico desde 1996 mostra que em 70% dos casos você teria um retorno positivo.
Já quando investimos com um horizonte de 10 anos, nossa taxa de “sucesso” seria 80% das janelas.
Já para o IMA-B5 tivemos os seguintes dados:
Nas janelas de retorno de um ano, não tivemos nenhum ano de retorno negativo, então achamos mais pertinente comparar diretamente com o custo de oportunidade, o CDI.
Nesse caso, tivemos 31% das janelas com retornos inferiores ao CDI.
Já quando comparamos janelas de cinco anos, tivemos apenas 1,8% delas abaixo do CDI.
A resposta final
Então, eis o que podemos definir como longo prazo: o longo prazo deve ser o horizonte de tempo no qual o investidor se sinta confortável para segurar o investimento, dada uma probabilidade histórica de sucesso para obter um determinado nível de ganho.
Os dados acima também servem para clarificar por que, quanto mais arriscado um ativo é, mais tempo ele precisa para convergir para a média esperada de retorno.